Debaixo dos Caracóis dos meus Cabelos. . .
Meu cabelo já foi curto, ruivo e com química.
Também tive minha cota de loirice discreta (balaiagem, californianas e ombré), minha fase da chapinha e até mesmo franjinha clássica. Mas a minha característica mais marcante sempre foram os cachos.
Ter cabelo cacheado realmente não é fácil.
Não porque não seja bonito ou dê trabalho para cuidar.
Primeiro, beleza é uma coisa relativa.
Estamos cansados de saber que o que é belo para os olhos de um pode não ser tão atraente para os olhos de outro.
Além disso, cabelos têm muitas outras características além de suas texturas e, mesmo dentro de um tipo como o cacheado, existem diversos subtipos, com demandas diferentes.
Aqui, cabe aquela discussão sobre estereótipos e padrões estabelecidos pela mídia.
Houve um tempo em que volumosos cabelos encaracolados estavam na moda, apareciam nas capas de revistas e nas cabeças das atrizes globais.
Eu cresci justamente na época em que esse padrão foi trocado por um totalmente oposto:
- cabelo bonito se tornou liso e completamente sem volume.
Grande parte dos meus problemas de autoestima na infância e na adolescência foi por conta desse padrão.
Ouvi todo o tipo de coisa sobre meu cabelo nessa época.
De elogios sinceros a forçados, de críticas veladas a ofensas. (E é claro que, como qualquer ser humano, eu dava mais atenção ao segundo grupo.)
Portanto, quando digo que ter cabelo cacheado não é fácil, não é porque ele não seja bonito, ou porque ele dê trabalho, mas porque as pessoas, presas a padrões estéticos, têm todo o tipo de preconceito.
Um desses preconceitos é aquele clássico de que cabelo cacheado dá trabalho para cuidar.
Não concordo.
Raras pessoas têm a sorte de ter madeixas que exijam pouca dedicação e nem todas são donas de cabelos lisos.
Como eu já disse, cabelos têm muitas outras características que influenciam na forma como cuidaremos deles.
Além disso, o grande problema das cacheadas sempre foi a falta de informações sobre cuidados com os cachos.
Lê-se muito sobre alisamentos, mas pouco sobre como manter o cabelo natural e bonito.
Graças aos blogs sobre beleza, essa oferta de informação tem aumentado, mas ainda são poucas as blogueiras que falam sobre cacheados com conhecimento de causa.
Desde que aprendi mais sobre minha cabeleira, observando seu comportamento, testando produtos e técnicas e lendo mais a respeito, minha relação com ela melhorou muitíssimo.
Creio que esse seja o momento perfeito para escrever essa matéria justamente por estar passando por uma fase muito boa com meu cabelo.
Ele está virgem de química e tinturas há algum tempo.
Decidi dar a ele um descanso para se recuperar das agressões e acho que fiz muito bem. Ele nunca esteve tão bonito e brilhante.
Hoje, tenho mais consciência de que, se quiser voltar a tingir ou a relaxar, preciso tomar cuidados específicos para estas situações.
Aprendi que meu cabelo é seco naturalmente, por causa do formato dos cachos, que impede a oleosidade produzida na raiz de chegar até as pontas.
Desde então, invisto em produtos para hidratação e específicos para cabelos cacheados.
Sempre experimento coisas novas e, se não funciona, passo adiante o produto e parto para outro.
Deixei de lavar os cabelos todos os dias, aprendi a concentrar o shampoo na raiz – e não passar no cabelo todo – e o condicionador nas pontas e sempre diluo os produtos no banho.
Hoje, lavo com mais cuidado e delicadeza, massageando o couro cabeludo e não esfregando o cabelo. Sempre deixo-o secar naturalmente e nunca o esfrego com a toalha.
Evito calor o máximo possível, mas ainda não aprendi a lidar com a franja sem escovar, então sempre uso protetor térmico. Hoje, aliso meu cabelo bem menos vezes do que antes.
Pente é item banido da minha rotina, uso-o em raríssimas ocasiões.
Desembaraço os fios no banho com os dedos e isso basta.
Aprendi a passar leave-in corretamente com a minha cabelereira e os óleos capilares se tornaram meus melhores amigos. Uso-os como pré shampoo e junto do leave-in.
Levo pouquíssimo tempo para cuidar dos meus cabelos e tenho uma rotina de cuidados bastante minimalista.
Até mesmo comecei a corta-los em casa para diminuir as idas ao salão de beleza – que é um programa que eu odeio.
O conhecimento sobre meu cabelo foi importante nesse processo, mas mais do que isso, foi importante um exercício de autoestima e amor próprio.
Isso vale não só para cacheadas, mas para todas nós que temos alguma característica fora do padrão: aceitação pessoal é a melhor dica de beleza que posso dar.
